As araucárias são árvores de grande porte e formato curioso bem presentes na paisagem da região de Monte Verde. Destacam-se na mata como mais altas que as plantas ao redor, sendo dotadas de vários aspectos fascinantes e também consideradas pouco conhecidas, cientificamente falando. Atualmente, a espécie de araucária existente no Brasil (Araucaria angustifolia, conhecida como “pinheiro-do-paraná”, “pinheiro-brasileiro” ou como “curi” pelos índios) é encontrada nos três estados da região sul do país e em alguns pontos na região sudeste, isto é, em trechos elevados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Sul de Minas, portanto, é um dos refúgios naturais mais ao norte para essa espécie, sendo também Monte Verde parte disso, no alto da Serra da Mantiqueira. O território original dessas árvores, no entanto, era muito mais vasto há algumas centenas de anos; para se ter uma noção do quanto essa floresta foi devastada, calcula-se que não restam 2% do que correspondia à sua área antigamente.
Existem 19 espécies de araucárias no mundo, sendo 13 delas encontradas apenas na Nova Caledônia, um arquipélago distante da Oceania. As demais são encontradas no sudeste da Austrália, Ilha Norfolk (onde, aliás, a própria bandeira local destaca uma araucária), Nova Guiné, Chile, pequenas extensões da Argentina e Paraguai e, claro, no Brasil. Ainda sobre o Brasil, uma curiosidade: foram encontrados fósseis de araucárias no nordeste do país. Já consegiu imaginar um local atualmente tão quente e seco com paisagem semelhante?
Podem não se parecer exatamente com a ideia tradicional que temos sobre o que seria um pinheiro (em forma de cone ou pirâmide), porém são coníferas sim, e por pertencerem a esse filo tão especial (coníferas são os vegetais capazes de viver mais tempo sobre a face da terra) são árvores que atingem idades centenárias. Não é tão difícil encontrar exemplares de 200 a 300 anos; existem outros de 500 anos, ou seja, da época do descobrimento do Brasil, verdadeiras joias da preservação ambiental; e, por fim, há plantas ainda mais velhas, até uma impressionante premiada com idade estimada entre 600 e 900 anos.
Quanto às suas dimensões, são surpreendentes como a idade que podem alcançar. Por sua altura pode ser considerada uma das àrvores mais altas do nosso país, mas infelizmente é pouco lembrada pelo fato e fica de fora de muitas listas estilo ranking do gênero. Em média esses gigantes tão estranhos chegam à alturas de 25 a 50 metros. Há registros de araucárias com 70 metros de altura, entretanto. Já a largura pode chegar a desafiadores 2 metros e meio.
São dioicas, o que equivale a dizer – de um modo mais simples – que existem “araucárias macho” e “araucárias fêmea”, diferente de algumas outras árvores que não têm sexos separados. Os indivíduos podem ser reconhecidos como masculinos ou femininos em primeiro lugar pela forma das copas: os “machos” possuem copa em formato de taça ou candelabro enquanto as “fêmeas” têm copa mais arredondada ou em cone. Em segundo lugar, as flores femininas são as famosas pinhas (estróbilos) – que frutificam e carregam os pinhões – , e as masculinas são os amentos – mais compridos e cilindricos, os quais carregam o pólen.
Quando jovens, independente do “sexo”, são todas com aspecto de cone.
Suas folhas possuem aparência de agulha, cor verde escura e são permanentes (perenifólias, não caem durante determinada época). Quando vemos um espécime cuja folhagem está amarelada ou mesmo sem folhas é porque a planta está de alguma forma “doente”, acometida por algum fungo, inseto ou mesmo envenenada.
Os pinhões (sementes comestíveis produzidas pelas araucárias) são formados em conjunto nas pinhas, cujo peso pode chegar a 5 quilos. Frutificam e são liberados entre os meses de maio a julho ou agosto, a temporada de coleta que coincide em Monte Verde com a época mais fria. Quando essas bolas de sementes caem ao chão de dezenas de metros de altura, podem espalhar seus frutos à 80 metros de onde está a planta.
A quantidade de pinhão liberada é muito abundante no primeiro mês e vai diminuindo até o último. Araucárias podem gerar de 40 até 200 pinhas ao ano, o que significa uma quantidade absurda de pinhões, a qual suficientemente alimenta os animais da mata e o comércio local. Porém não se engane, um dado interessante sobre o assunto e que reforça a necessidade da preservação dessas belas árvores é que apenas cerca de 0,05% das sementes lançadas ao solo é capaz de germinar. “Germinar”, no entanto, não significa dar origem a uma nova e grande araucária sempre; as jovens mudas terão de enfrentar muitos desafios naturais durante vários anos para chegar a tal ponto. Para esboçar mentalmente a longa trajetória pela qual esses vegetais precisam passar antes de se tornarem organismos adultos, são necessários 20 anos para que uma muda comece a dar pinhões.
Os estudos que temos sobre elas a destacam como importantíssima na natureza. Alimentam inúmeros animais, dentre os quais: esquilos, cutias, variadas espécies macacos, papagaios, periquitos, gralhas, tucanos, jacutingas, etc. Também beneficiam outros animais, como quatis, pacas, ouriços, camundongos e até besouros e formigas. Além disso, segundo Solórzano-Filho & Kraus, a araucária “ao colonizar áreas abertas ou de campo, cria condições que facilitam o recrutamento de outras espécies vegetais por meio de sombreamento dado por sua copa. Assim, sob estas desenvolvem-se outras espécies arbóreas e herbáceas formando um sub-bosque.” É por esse motivo que encontramos exemplares dela tanto em campos abertos como em matas mais fechadas – como é o caso do distrito de Monte Verde, onde as araucárias se misturam com a diversidade da Mata Atlântica. São portanto pioneiras capazes de colonizar áreas de pouca vegetação.
Ainda há outro motivo pelo qual elas são importantes ecologicamente. Principalmente quando cercadas por bosques e mais sombreadas, sua casca grossa e rugosa serve de superfície para fixação de mais de 50 espécies de plantas, plantas epífitas (como bromélias) e parasitas, musgos e liquens, bem como serve de abrigo para ninhos de cerca de 23 espécies de formigas. Além disso, nelas podem ocorrer cerca de 15 associações mutualísticas com certos tipos de fungos.
Conservação ambiental
A mata de araucárias, também conhecida como mata dos pinhais, em sua maior parte manteve-se intocada por muito tempo, mesmo depois da colonização do Brasil. Começou a ser alterada devido à necessidade da abertura de caminhos mas foi só no século XIX, quando imigrantes alemães e italianos chegaram ao sul e sudeste do país e principalmente começaram a colonização da primeira região, que teve início o desmatamento em mais larga escala. Não que estes tenham sido os únicos responsáveis pelo processo, mas como dito, inauguraram a degradação ambiental do local. Na época, os colonos passaram por tempos muito difíceis e utilizaram da madeira das araucárias para a venda, para a construção de casas, móveis, artigos domésticos e para abrir espaço para plantações.
Não demorou muito também para a ótima madeira da árvore adquirir conotação comercial. Foi muito vendida dentro do país assim como exportada, sob o nome de Brazilian pine ou Paraná pine.
Apenas no ano de 2001 a extração da araucária foi proibida pelo CONAMA junto de outras espécies ameaçadas, o que significa pelo menos mais de um século depois do início de sua exploração em larga escala.
Hoje a araucária é classificada como em “perigo crítico de extinção”, o que reforça a obrigação de todos os cidadãos habitantes de locais donos de tão esplêndido patrimônio natural como é Monte Verde.